domingo, agosto 21, 2011

Som de minha voz


Hoje amanheci querendo ouvir o som de minha voz,

Mas ela não me disse nada.

Só o silêncio toca a minha face tola

Congelando minha alma perdida.













Poema: Jacinto dos Santos
Pintura: Cy Twombly

Palavra da palavra

Nenhuma palavra escrita dirá tudo que a alma sente.

Nenhuma palavra escrita falará o que grita o coração.

Nenhuma palavra escrita expressará o sentimento de dor ou frustração.

Nenhuma palavra escrita terá tanta vida quanto o silêncio que reverbera em mim.

Os versos que traço com palavras ingênuas

Se dissolvem na balada do tempo.

Palavra, palavra fácil.

Palavra na promessa perdida.

Palavra que não sustenta a bofetada ofensiva.

Palavra que rabisco histórias vividas

Palavra marcada pela doce lembrança

Palavra que conta tudo do sim e do não

Palavra carregada de emoção

Palavra que rir.

Palavra que chora.

Palavra coberta de razão.

Palavra que vai com palavra de boca em boca dizendo verdades ou ilusão.

Bendita seja, ó palavra, que tudo é sem ser

Encanto, sensação.

Sem tua força não vivo,

Sem tua fraqueza não te escrevo.

Palavra que me atrevo a penetrar nas tuas fissuras

Querendo tocar as tuas vísceras mortas

Achando-te nos meus sonhos

Cantando a lira dos deuses perdidos.




Poema: Jacinto dos Santos
Pintura: Cy Twombly

No tudo ou no nada

No aparente vazio

tenho tudo preenchido,

não há o nada sem o tudo dentro de mim.

Às vezes tudo parece confuso

mas tudo está na ordem do princípio.

Margeio as fissuras de minhas tantas narrativas

e caio nos abissais labirintos de minhas lembranças;

estremeço o corpo ao sentir as minhas verdades

aos gritos pela consciência do mundo

que ferem meus sentidos a cada toque.

Sou cheio do mundo,

me dano na sua vastidão de luzes e trevas,

e soluço nos seus umbrais.

Tentando na sanidade fincar meus pés,

acordo antes da visão absoluta

para o que vejo e o que sinto.

Assim, não me estabilizo na totalidade

Arrogante das aparências.





Poema e fotografia: Jacinto dos Santos

terça-feira, março 08, 2011

Eco




Tanta coisa minha voz queria poder dizer,

mas o silêncio da distância

já não podia ser rompido.

Tanta coisa minha voz esvaziou

diante do ensurdecedor grito

de nossas frustrações, covardia, ensimesmamento.

Tanta coisa poderia ser,

mas o abismo nefasto

cavado por nós ao longo do tempo

disse não.

Que palavra fica?

Confesso que não sei.

Talvez o eco frio da solidão.


Texto e fotografia de

Jacinto dos Santos

quarta-feira, novembro 17, 2010

No Tudo ou no Nada







No aparente vazio

Tenho tudo preenchido,

Não há o nada sem o tudo dentro de mim.

Às vezes tudo parece confuso

Mas tudo está na ordem do princípio.

Margeio as fissuras de minhas tantas narrativas

E caio nos abissais labirintos de minhas lembranças;

Estremeço o corpo ao sentir as minhas verdades

Aos gritos pela consciência do mundo

Que ferem meus sentidos a cada toque.

Sou cheio do mundo,

Me dano na sua vastidão de luzes e trevas,

E soluço nos seus umbrais.

Tentando na sanidade fincar meus pés,

Acordo antes da visão absoluta

Para o que vejo e o que sinto

Não me estabilizem na totalidade

Arrogante das aparências.



Poesia de Jacinto dos Santos
Foto: by Jacinto dos Santos

terça-feira, janeiro 05, 2010

VIDA RAPADURA





A cana doce e mole rola as matas.

Mata, sangra, desce o caldo, dor

(Do)ce delirante nas mãos entumecidas pelo facão.

E a gravata vem e rapa a inocência dura da gente.

Ai, quanta cinza nos olhos!

A fuligem expõe a negritude consumida na fornalha

e entorta, e puxa até alvejar ao fim (nin)guém sobra na boca,

só areia branca, só areia branca...

Ela é doce.

Ela é dura, mas é doce.

Ela é escura, mas clareia.

Rapadura: água mole em rapadura, tanto bate até que vira pó.

E vamos tomar ca(fé) expresso adocicado tipo exportação.



Texto: Jacinto dos Santos

Foto: Marcos Michael (JC)


sábado, janeiro 02, 2010

Feminina



No canto do jardim


insinuo passos de um bailado,


mas a rigidez do tempo me impede do ensaio.


Talvez seja melhor esperar!


Espero em silêncio...


Espero um corpo que me faça dançar.





Texto: Jacinto dos Santos

Foto by Jacinto dos Santos

sexta-feira, novembro 06, 2009

O que me digo

Às vezes pensamos que nossa alma é de ferro
e nos ferramos em ferrugem.
Às vezes pensamos que somos de pedra
e viramos pó.
às vezes pensamos tantas coisas sobre o que somos
e nos equivocamos em todas as coisas as quais supomos.
Eu acho que agora sou papel
e me escrevo com nanquim,
mas... e a gota d'água?
Temo que me apague e me dissolva.















Poema: Jacinto dos Santos
Foto: The Exit, by Mark Freedom

segunda-feira, setembro 14, 2009

(Pássa)ro



Um pássaro bateu suas asas em minha janela
Ele voou, voou... e deixou cair uma das suas penas na minha mão.
Começo a achar que com essa pena eu voo,
Não sei se voo ao infinito, ou tão somente vou cruzar de uma calçada a outra da rua.
Vou voar seguro na sua pena, ou, quiçá, mergulhar sua ponta no tinteiro e escrever histórias.


Jacinto dos Santos

14/09/2009
Foto de Luna
Site Olhares.com